sexta-feira, 19 de junho de 2009

Lévi-Strauss lê Montaigne

Trecho da entrevista de Lévi-Strauss – o fundador da antropologia moderna, autor de Tristes Trópicos, para o Jornal Folha de São Paulo, em 1993.

FOLHA - O SENHOR SEMPRE TOMOU O PARTIDO DA CIÊNCIA, MAS, NA RELEITURA DE MONTAIGNE QUE FAZ EM A HISTÓRIA DO LINCE MOSTRA TAMBÉM SUAS DISTÂNCIAS EM RELAÇÃO A UMA FÉ NO CONHECIMENTO. O SENHOR SE TORNOU MAIS CÉTICO EM RELAÇÃO À CIÊNCIA?

LÉVI-STRAUSS - A lição que tirei de Montaigne é que estamos condenados a viver e pensar simultaneamente em vários níveis e que esses níveis são incomensuráveis. Há saltos existenciais para passar de um a outro. O último nível é um ceticismo integral. Mas não se pode viver com ceticismo integral. Seria preciso se suicidar ou se refugiar nas montanhas. Somos obrigados a viver ao mesmo tempo em outros níveis em que esse ceticismo está moderado ou totalmente esquecido. Para fazer ciência, é preciso fazer como se o mundo exterior tivesse uma realidade e como se a razão humana fosse capaz de compreendê-lo. Mas é "como se".

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